sábado, 24 de abril de 2010

Ele está tocando, uma musica que eu desconheço, mas ela entra pela minha pele, pelos meus ouvidos, e eu me arrepio, me estabilizo. Sinto uma conformidade do local, do ritmo lento de um violino, de um homem bonito, de um sexo quente. [Sei que em minhas escrituras costumo citar o sangue, o amor, o calor, o sexo. Ele está presente na minha vida, no momento em que escrevo. Por mais que haja esse tal tabu ao falar de algo tão bom para nós, é assim que me sinto.]

O tal homem é sério, é de estatura media, moreno, centrado naquilo em que estuda no momento. Seus sapatos são de alguém jovem, que gosta de moda. A parte da perna que posso ver antes da bermuda é peluda, chamativa. Usa um casaco azul, faz frio. Sua boca não é nem tão carnuda nem tão fina, é bonita. Seus olhos são escuros, feito um chocolate quente, como seu cabelo. Sua voz agora não escuto, mas presumo que seja simples, direta, sem extravios. Sua partitura agora se encontra sozinha. Mostra símbolos que se transformam em poesia no momento em que ele passa para seu instrumento. Estou em seu quarto, a alguns metros distante. Sentada numa cama, olhando suas costas, sua concentração.

Em um instante o som para, e depois volta. Em cima de sua partitura, alem do livro com aqueles tais símbolos, existe um aparelhinho. Não sei para o que ele possa servir, mas sei que a cada nota diferente que sai do violino, uma letra diferente aparece no tal aparelho. Ele voltou, seu queixo encosta no instrumento. Para de tocar e passa algo em seu arco, como se passasse giz no taco de sinuca. Volta a tocar. O ensaio para novamente, ele vem até mim, está com sede. Lhe indico o caminho da água, depois de um tempo ouço a musica novamente e as letrinhas mudarem no tal aparelho. Ele questiona o que venho a escrever, recuo. E a musica volta, vou-me embora, me apaixono fácil. Não consigo ir embora, o som me chama, e ele também.